domingo, 16 de setembro de 2012

Marina, a sereiazinha por Márcia do Canto

 

Pra começo de conversa é muito bom ver o teatro em festa. Quero dizer, ver o teatro sendo festejado por ser o que ele é. Não adianta. Por mais tecnologia que coloquemos em cena, sempre será teatro, sempre será aqui e agora. O momento em que acontece. Isso é fascinante. O teatro é humilde por natureza. É humano. Não tem a intenção de roubar o tempo do relógio de Deus, para fazer de conta que está acontecendo naquele momento. Ele realmente está acontecendo naquele momento. E só. A relação teatro e plateia é sempre linda de ver. As reações, o diálogo que se estabelece com o que estamos apreciando. Os atores não conhecem aquele público - por mais tempo que estejam fazendo o espetáculo, assim como o espectador não conhece aquele espetáculo - por mais que ele já tenha visto a peça. Ok, esse papo é lugar comum, mas é sempre bom lembrar. Eu acho. Bueno, mas minha prosa é outra. É falar sobre o espetáculo Marina a sereiazinha que está no 19º Porto Alegre em Cena nos dias 15, 16 e 17 de setembro no Teatro Renascença sempre às 20h. Adaptação do clássico conto de Hans Christian Andersen, o espetáculo da companhia carioca Pequod, com uma vasta história de trabalhos competentes e de premiações, consegue narrar o que já conhecemos bem - ou pensamos que conhecemos -, como a adaptação do filme A pequena sereia da Disney, livros e os tais motivos de festas infantis. E, mesmo assim, tem o frescor da novidade, do inusitado. Marina, a sereiazinha encanta por vários motivos. A utilização da técnica do Teatro Aquático de Bonecos do Vietnan afina completamente com a história a ser contada. As composições de Dorival Caymmi dão uma brasilidade à história. Os arranjos das músicas são modernos, autênticos. Os atores/cantores/manipuladores estão em cena muito à vontade. Não demonstram o esforço de conciliar tantas funções e movimentar-se nos vários planos do cenário.
Uma obra artística para crianças que as trata como gente inteligente. Isso é muito bom. Não menospreza a capacidade delas em apreciar e compreender a história, mesmo não sendo com o final feliz adaptado pela Disney. Espetáculo feito por gente grande para gente grande. Isto é, gente de grande competência para gente de grande sensibilidade. É isso aí. E viva o teatro.
 
*Márcia do Canto é atriz

2 comentários:

Bee Box disse...

Teatro infantil se faz com delicadeza, sensibilidade e respeito ao seu público. Hans Christian Andersen certamente ficaria feliz com esta bem cuidada adaptação. As crianças [e adultos também] agradecem.

Teatro do Clã disse...

Que bela montagem e que belo texto Márcia. Como é bom ler comentários desse nível. Obrigado!