quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Devolução industrial por Manuella P. Goulart

Devolução industrial*
Dirigido por Leo Sykes, Devolução industrial apresenta um espetáculo que mescla circo, clown, música e, é claro, teatro. Já sabendo desses artifícios, o público começa a se interessar para conferir o que resultará essa mistura cultural. Isso pôde ser comprovado pela longa fila que se formou na porta do Teatro Bruno Kiefer. Além disso, após a entrada ser liberada, havia pessoas que ainda queriam comprar ingressos. A expectativa era notável.
A primeira sensação que o espectador tem ao entrar no teatro é a de estar junto a alguma cerimônia ritualística. A atmosfera é de mistério, e esta é acentuada com um cheiro semelhante a incenso e um palco que chama bastante a atenção pela sua variedade de cores e formas. Nele se encontrava um ator vestido completamente de branco e com o rosto coberto por um acessório comprido feito de palha. Também se pôde notar uma grande roda atrás dele, um “lago” e o assento em que está sentado.
Após todos se acomodarem, o ator inicia o texto. Conta-se a história da criação do universo ilustrada por um jogo de luz e gestos entre os atores. Com isso, é possível identificar os personagens da trama: o Ser Místico e mais dois atores que chamam um ao outro de Senhor e Senhora Sapiens. O primeiro realiza variados truques de ilusionismo que entretêm o espectador. Já a “dupla Sapiens”, a partir do humor corporal, auxiliam no tom divertido da peça.
Inicialmente, é possível pensar que se assistirá a algo relacionado à Bíblia. Porém, não é bem isso o que acontece. Ao longo da peça é mostrada a evolução tecnológica humana. Com isso, os atores usam objetos que se transformam em máquinas magníficas que encantam o público. O primeiro deles é uma panela usada para, realmente, cozinhar uma sopa – que é servida, no fim do espetáculo, aos interessados em prová-la. Depois disso, a panela é mesclada com outros objetos até formar um trem à vapor. Nesse momento, há interação com o público – o que é muito frequente durante o espetáculo – em que convidam participantes para serem os passageiros dessa locomotiva.
É notável a beleza dos itens usados em cena e o olhar de surpresa do público para a variedade de objetos que eles podem se transformar. É importante também assinalar que essa maquinaria é feita a partir de utensílios recicláveis (garrafas plásticas), o que resulta numa moral ecológica ao espectador. Isso é reforçado com as músicas cantadas pelos atores. Eis um espetáculo que soube ser pedagógico sem ter elementos “piegas”.
Porém, é uma peça aconselhável para o público infantil. Pelo contrário, aquele que assistirá só se sentirá conectado por causa da dinamicidade do cenário e das máquinas. Aliás, acredito que os atores sejam mais agradáveis a partir da visão do público infantil, pois é usada uma linguagem constituída de piadas leves que dificilmente atrairão os adultos.
Assim, caso queira entreter os seus filhos ou apenas relaxar vendo um cenário dinâmico, essa é a melhor opção. Com certeza, os pequenos voltarão surpreendidos para casa, por causa da estética teatral, e com uma melhor visão ecológica.
* Manuella P. Goulart é estudante do Departamento de Arte Dramática da UFRGS

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