segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Ninguém falou que seria fácil por Carolina Garcia

Ninguém falou que seria fácil*
Olhando as postagens deste blog, resolvi escrever minhas impressões sobre Ninguém falou que seria fácil para abrir uma conversa virtual...Vamos lá!
Ao entrar na sala de espetáculos, vibra a sensação de que o teatro é o ambiente do encontro original entre o espectador e o ator. Um espaço autêntico está à disposição de nossos olhos. Já de início, cortinas abertas e palco composto por objetos cuidadosamente selecionados para nos lançar à ficção teatral, sem perder de vista as referências cotidianas, apresentam um funcional casamento entre a criação de iluminação (Tomás Ribas) e a composição da cenografia (Aurora dos Campos). Na cena, um homem, assim como nós, estabelece sua primeira conexão com as pessoas que estão chegando, na expectativa de que algo aconteça. Rompendo as conversas da plateia, aparece uma mulher que principia uma discussão de casal absurda e convincente. Finalmente, surge o último componente de nossa tríade e, então, ocorre uma vertiginosa sequência de desconstrução fluida das personalidades. Entre diálogos e narrativas de construção do ambiente imaginário, são abordadas questões familiares e relativas à própria comunicação .
Desta forma, com uma dramaturgia contemporânea autoral e inteligente, Felipe Rocha estabelece um jogo de relações humanas e sobreposição de papéis do cotidiano, que leva a plateia à cumplicidade e identificação com os atores, os quais conduzem o texto de forma dinâmica e musical. Stella Rabello, Renato Linhares e o próprio autor, Felipe Rocha, num tom despojado, compartilham uma brincadeira de convenções teatrais, envolvente, divertida e com uma sensualidade que vai além da discussão de gênero e idade.
Percebo, na direção de Alex Cassal, uma escuta generosa. Ele sabe unificar as forças criativas ao mesmo tempo em que permite a liberdade de sua eficiente equipe.
A ação teatral contempla uma hora e meia de duração, a qual, talvez, pudesse prescindir de quinze minutos para mantermos a sensação de ter perdido alguma coisa ao invés da sensação de ter visto coisas a mais.
Mesmo assim, fico com a boa impressão de que esta obra permaneceu comigo ao longo do festival para além do teatro, e foi responsável por encontros e surpresas memoráveis.
Prestem atenção nesta turma: Individual ou coletivamente, eles ainda vão produzir outras boas e instigantes obras artísticas!
* Carolina Garcia é atriz

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