quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Mônicas por Marcos Chaves

Intercâmbio*

Para comentar o show musical intitulado Mônicas, eu não poderia deixar de situá-lo onde sua apresentação estava inserida. Dentro do Porto Alegre Em Cena, atração de encerramento e entrega do Prêmio Braskem – que destaca espetáculos gaúchos de artes cênicas – e, por isso, havia na plateia um público diferenciado.
Diferenciado no sentido em que muitas emoções estavam ali presentes, o show, para alguns, fazia parte de uma grande festa, e no passar de sua realização, na medida em que eram revelados os premiados, mistos de alegrias, tristezas, concordes e discordes instauravam-se no ar, também fazendo parte do show, pois o espectador é o sentido do artista “estar no palco”.
Dito isso, é claro que era possível perceber parte do público curtindo o show, e parte do público envolta em outras emoções. E não apenas pelo prêmio Braskem, mas também pela data final do festival, um clima de compensação pelos organizadores do evento que procuraram fazer um bom trabalho, entremeados por discursos de importantes pessoas que fazem e/ou apoiam o festival.
Da premiação, parabenizo todos os artistas destacados pelo júri popular ou júri oficial – que tiveram um difícil trabalho devido a tantos concorrentes apresentando obras artísticas de qualidade.
Situadas em uma apresentação dentro de um evento complexo, Mônica Tomasi (RS) e Mônica Feijó (PE) – por isso o nome Mônicas – tinham outra preocupação com seus músicos: fazer um grande show para o público presente. Luciano Alabarse, coordenador geral do Porto Alegre Em Cena, revelou que há algum tempo queria apresentar a musicista pernambucana ao público gaúcho, esperava apenas o momento certo. Disse também um fato que vivenciamos: a dificuldade de “expandir fronteiras” que os artistas possuem com suas obras. Não é fácil conseguir espaços em outros centros culturais, geralmente os espetáculos percorrem uma trajetória local e/ou regional dentro do próprio estado. Certamente não por opção, e sim por esbarrar em dificuldades diversas.
Unir o grupo gaúcho de Tomasi ao pernambucano de Feijó fora uma grande ideia, desta forma o público apreciou um pouco mais da Mônica “daqui”, e conheceu a Mônica “de lá”. O intercâmbio cultural estava presente, os músicos realmente se divertiram no palco. É fato que as cantoras, sabendo do show marcado há meses atrás, mantinham contato já trocando seus repertórios, criando situações para o evento, dividindo ideias...O que poucos sabem, é que elas apenas se conheceram pessoalmente um dia antes do show. Houve apenas um ensaio. Não é tarefa fácil, e os músicos se saíram muito bem: tanto que o ponto alto do show aconteceu quando todos estavam no palco e ambas as Mônicas cantavam juntas.
Divididos em blocos, o show primeiro nos trouxe Mônica Tomasi acompanhada por dois músicos, Giovani Berti na percussão e Matheus Kleber no acordeon – jovem artista que realço por fazer do instrumento de sopro uma extensão de seu corpo. No segundo bloco, Monica Feijó e quatro instrumentistas, Tom Rocha na bateria, Areia no baixo, Rodrigo Souza na guitarra e Guga Fonseca nos teclados. Desta formação, destaco Fonseca por sua habilidade e sensibilidade aos timbres. A partir do terceiro bloco um presente a nossos olhos e ouvidos: a junção de todos os artistas no palco, superando o pouco entrosamento e descobrindo relações frente ao público. Um ganho ao show.
Nas composições próprias, poesia. Mas o público precisaria de outras oportunidades para melhor conhecer cada Mônica, fica o show como parte de um grande evento, repleto de emoções, e agora – introduzida a cantora de Recife ao público gaúcho e aguçada curiosidade a respeito da cantora de Porto Alegre – temos como procurar um pouco mais sobre cada artista, bem-vinda a tecnologia neste quesito. As Mônicas marcaram o Porto Alegre Em Cena e estarão na memória do festival e do público presente. Uma bela atração para um festival que cresce a cada ano, e atingiu a maioridade – 18 anos de Porto Alegre Em Cena – mostrando que é um dos eventos culturais mais importantes do país, quiçá da América, com reconhecimento intercontinental.
* Marcos Chaves é ator, músico e criador de trilha sonora

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