quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A chegada de Lampião no inferno por Paulo Balardim

Do barro à vida*
A companhia PeQuod, em A chegada de Lampião no inferno, traz à tona não apenas os sentimentos que circundam o flagelo do cangaço em nosso país, apresentados por uma visão impressionista dos eventos e da história, mas, também, tange questionamentos sobre nossa essência e sobre a imortalidade, através do percurso do anti-herói aos confins do inferno, para, em seguida, ressucitá-lo novamente, como símbolo, na memória do barro esculpido pelas hábeis mãos do Mestre Vitalino, representante da cultura popular do nordeste.
Num magistral jogo de entrecruzamentos metafóricos, a dramaturgia trança a tríade Virgulino, Vitalino e a evocação de um Virgílio, presente na obra de Dante Alighieri, que conduz o protagonista pelos caminhos tortuosos de sua morte.
A estrutura do espetáculo apresenta três momentos distintos: uma introdução, que mostra o interior de um atelier onde o barro é trabalhado ao redor de uma imensa fornalha; uma primeira parte, onde o barro toma vida e assume a forma de cangaceiros e soldados que se enfrentam em meio à populacão; e uma segunda parte, a qual apresenta a chegada de Lampião ao inferno, seu encontro com o demônio e com um Vitalino-Virgílio, que o restitui à vida em forma de artesania.
Há que se perceber que o trabalho da companhia PeQuod longe está do que se poderia chamar de “tradição “ no Teatro de Animação. Como identificamos também em outras montagens suas, a utilização de um espaço cênico dinâmico e a interferência dos atores na cena como matéria significante é marca de uma inquietude e inconformismo com os limites da tradição. Mas também, há que se perceber a herança de uma arte elaborada na utilização dos bonecos em cena: a animação através de laboriosa técnica manipulatória.
Mas, apesar da boa qualidade na apresentação dos bonecos, o que se poderia apontar, como força primordial da montagem, é a ótima atuação dos atores num conjunto dramatúrgico que prima, a todo instante, em elaborar jogos de sentido com o espectador, além da acuidade estética em todos os pormenores que envolvem iluminação, trilha e cenografia.
* Paulo Balardim é ator e diretor da companhia Caixa do Elefante Teatro de Bonecos

5 comentários:

Plínio Marcos Rodrigues & Téo Rodrigues disse...

Outra característica marcante é a musicalidade, as vezes gravada, as vezes ao vivo, as vezes mesclada mas sempre muito bem executada. A precisão na manipulação e nas trocas de cenário é impressionante e a entrega dos atores/manipuladores é emocionante!
Espetáculo IMPERDÍVEL!

Anônimo disse...

Considero um dos pontos mais altos deste Em Cena. Espetáculo primoroso em todos os quesitos. Para leigos e entendidos, a técnica à seviço da arte com envolvimento e diversão. E que trilha! E que luz! E que elenco! E que concepção!!!
Margarida Leoni Peixoto

Julio Appel disse...

Maravilhoso !!!

Alexandre disse...

O espetáculo é lindo. É um sopro de vitalidade no teatro. Deveria ser visto por todos. É o tipo de espetáculo que quem não viu não faz a menor ideia do tanto que perdeu. A Cia. Pequod merecia ser amplamente conhecida pelo seu trabalho primoroso.

lilibell disse...

voy a ser breve.
para mi es una de las mejores propuestas del festival.yo sali emocionada,inspirada.es tan reconfortante entrar al teatro de una manera y salir de otra,salir mejor que como entrastes.eso sin contar la lluvia de aplausos,FABULOSO E INSPIRADOR