quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Iuri Wander #2:



Confirmação!

Um dos espetáculos mais esperados deste festival traz o grande diretor Eimuntas Nekrosius e sua companhia Meno Fortas (Fortaleza da Arte), criada em Vilna, capital da Lituânia, em 1998, a Porto Alegre pela quarta vez. Depois de Hamlet (2001) e Othello (2006), de Shakespeare; e Fausto (2008), de Goethe; é a vez de Fiodór Dostoievski (1821-1881) ser trazido ao palco com O idiota, escrito entre 1867 e 1868.

Nekrosius transforma os 50 capítulos e quase 700 páginas de O idiota em 5 horas de espetáculo, com 4 atos e aproximadamente duas mil falas, 3 intervalos de 15 minutos perfeitamente encaixados no arco da narrativa, que passam voando aos olhos do espectador. É a história de um príncipe que, ao voltar de um tratamento de epilepsia, na Suíça, espera receber, em sua terra natal, São Petersburgo, a herança de sua família, já toda falecida. Enfrenta, então, os problemas da sociedade egoísta e torpe. O príncipe Míchkin sofre os mártires de sua personalidade bondosa e incauta. Com quatro personagens centrais, a trama se desenvolve gradualmente entre os atos.

Os atores em perfeita sincronia de atuação. Nenhum destoando. A música ambiente é constante. Ora coral, ora violinos, com algumas intervenções de algum ator no piano colocado num canto do palco. O cenário com poucos objetos conta com algumas camas de grades, cadeiras, um espelho, um piano, obviamente, e uma porta. Tudo muito bem utilizado.

O príncipe Míchkin é o primeiro personagem revelado pela trama. Envolto por um cobertor, ele entra em cena carregado numa maca por dois homens e é jogado ao chão. Uma conversa breve com Rogójin finda o preâmbulo. Logo após, entra em cena Nastácia Filíppovna com sua beleza sedutora e persuasiva para com os homens no palco (e na plateia). Os personagens correm de um lado para o outro em vários momentos, principalmente o príncipe Míchkin. Um estouro de rojão, literalmente, acorda os que estavam dormindo na plateia e acende os que estão em cena. Depois de uma negociação com Rogójin, Nastácia sede aos cem mil roblos e, em seguida, é alvo de uma chuva de moedas atiradas pelos personagens em cena. Depois de uma hora e trinta minutos chega o primeiro intervalo com o fim do primeiro ato. Aplausos da plateia e tempo para esticar as pernas, ir ao banheiro, fazer uma boquinha.

As cortinas se abrem, começa o segundo ato. A intensidade dos diálogos sobe. Começa a disputa por Nastácia. Os homens em cena, todos bem peculiares, competem pela mão da bela Nastácia, que julga as atrocidades contadas por cada um dos personagens tentando conquista-lá. Para cada participante da disputa, Nastácia derrama uma taça de champagne sobre o móvel que serve de mesa para a garrafa. Muita correria pelo palco, movimentação de cadeiras e veracidade marcam esta disputa. Fim do segundo ato com a narrativa no climax.

Inicia o terceiro ato. O clima tranquilo do diálogo do príncipe Míchkin com Aglaya numa praça com pica-paus em torno das árvores é bem romântico. E, com 3 horas de peça, os atores mostram estar em plena forma. A tensão do segundo ato vai baixando. Tem início o último intervalo.

Todos voltam aos seus lugares para saber o final da história. Começa a parte final. Mesa ao centro. Os quatro personagens centrais sentados sobre ela. Bons diálogos. Um espelho suspenso no centro do palco gira refletindo as luzes na plateia. Nastácia pega o espelho e roda com ele por todo o palco. Final encantador. Confirmando as expectativas sobre os Lituanos.

Foi o que pude entender. Em alguns momentos, a movimentação dos atores em cena prejudicava a leitura das legendas, sem prestar atenção nas duas coisas. De resto, as informações passadas eram factíveis de entender para o público em geral, que é o meu caso.

Sobre Eimuntas Nekrosius, parafraseando Eugênio Barba: “Eis a marca de um artista de teatro que entende claramente a dramaturgia das ações e a dramaturgia das palavras”.

Um espetáculo para a história do Porto Alegre Em Cena.


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Iuri Wander é comerciante.

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