quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Daniel Colin: Reflejos

Reflejos, de Matías Feldman

Ontem, fui convidado a assistir ao espetáculo Reflejos (Argentina), apresentado na Sala Álvaro Moreyra, às 23h. Caí meio de páraquedas no teatro, pois só havia lido a sinopse na Revista do Em Cena: “Caem a cenografia, o cenário e a luz”. Ficam apenas o texto e cinco atores. Isso resume bem o espetáculo a meu ver. Focando nos atores, sobretudo em sua forma quase natural de “dar um texto”, Matias Feldman, autor e diretor da peça, opta pelo mais simples, parecendo ser favorável à ideia de que “menos é mais”. Bem... Teoricamente, desta maneira, Feldman-diretor não tem como errar, ainda mais contando com um bom texto e bons atores.

Eis aqui, portanto, o maior pró do espetáculo: através desta simplicidade cênica, podemos realmente saborear o trabalho preciso de um elenco afiado (sobretudo Juliana Muras e Luciano Suardi, muito bem em seus papéis!), bem como podemos perceber a potência dos diálogos escritos por Feldman-dramaturgo, por muitas vezes, recheados de humor negro e belas reflexões. O texto em si começa muito bem, com um monólogo inicial e uma temática deveras interessante, mas é bem verdade que, no final, infelizmente, descamba prá um dramalhão desnecessário. Aqui, senti-me como se assistindo a uma novela televisiva, no sentido mais pejorativo da ideia... Mas, resumindo, é um bom trabalho que se sustenta por 90 minutos sem nunca entediar o espectador (mesmo a mim, que tenho uma dificuldade enorme com o espanhol falado a toda velocidade...).

Porém, do outro lado da moeda, podemos perceber claramente as falhas do espetáculo. A encenação de Feldman ultrapassa a simplicidade e chega a ser simplória, não auxiliando ou atrapalhando a evolução do texto. Parece optar por ficar “em cima do muro”, numa posição absolutamente cômoda. Não ousa, não arrisca, não sai do “arroz com feijão”, como diria o bom e velho Roberto Oliveira. E, aqui, voltamos às cenas de uma novela... As marcas, os ritmos, os climas: todos previsíveis. Os figurinos e acessórios cênicos que circulam no palco são cotidianos e parecem ter saído da bagagem de qualquer pessoa da equipe técnica, sem apresentar uma proposta de linguagem. A mim, particularmente, incomoda uma direção que nada acrescenta à obra, ainda mais nesse caso, pois me fica a impressão incômoda de que o Feldman-diretor não quis intervir muito no trabalho do Feldman-dramaturgo, por gostar muito deste.

Ou seja: “Reflejos-texto”, enquanto discurso e temática, propõe-me algumas reflexões; enquanto que “Reflejos-espetáculo” só me conta uma história, nada mais. Me deixa um vazio. Bem... Nesse caso, parece que “menos é menos mesmo”.

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Texto e Direção: Matías Feldman / Elenco: Javier Drolas, Maitina De Marco, Juliana Muras, Luciano Suardi e Lorena Vega / Duração: 1h30min / Classificação: livre

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Daniel Colin: ator, diretor e dramaturgo. Mestrando em Artes Cênicas (PPGAC-UFRGS) e Bacharel em Interpretação Teatral (DAD-UFRGS). Vencedor dos prêmios Açorianos, Tibicuera, Braskem e RBS Cultura. Integrante-fundador do Grupo Teatro Sarcáustico (Porto Alegre/RS), com o qual estreará o espetáculo Wonderland e o que M. Jackson encontrou por lá, dia 16 de outubro, no mezanino da Usina do Gasômetro. Maiores informações: www.teatrosarcaustico.blogspot.com


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