quarta-feira, 21 de julho de 2010

Cuestión de Princípios

Foto: Ivo Gonçalves / PMPA


Está lá em casa, guardado por Deus, contando vil metal...

O tempo do ponto de vista do fim das ideologias, das utopias, das crenças sociais, de muitos dos princípios sociais de antanho. O tempo do ponto de vista de dois personagens no funeral dos valores. Um sorri. O outro chora. “Cuestion de principios” é um texto de Roberto "Tito" Cossa, presidente da Fundação Carlos Somigliana, associação para apoiar o autor teatral, um dos dramaturgos mais importantes do teatro argentino, que recentemente foi agalhoardo com o Premio Hispanoamericano de las Artes Escénicas de los Max na Espanha.

Como cronista, Cossa escreveu no Clarín, no Opinión, no Cronista Comercial e, no início de sua carreira, foi, durante dez anos, correspondente “clandestino” da Prensa Latina, a agência cubana de notícias. Hoje, ainda se autodefine como socialista e como admirador da Revolução Cubana e, nessa texto, vemos a realidade social e a história política da Argentina circularem pelas palavras como frequentemente acontece em todas as suas obras. “Poucos autores alcançaram tão perfeito grau de lucidez na interpretação da realidade social e do comportamento da classe média portenha como Roberto Cossa”, disse Osvaldo Soriano no prólogo de Teatro I, o primeiro tomo das obras completas de Cossa. Entre seus textos, pode se dizer que é destacável El viejo criado, de que já disse Soriano “toda a miseria argentina está ali: o autoritarismo, a mentira, a cegueira história, a estupidez, a ignorancia, a prostituição dos valores éticos e morais”. Com uma lucidez implacável, através de uma bela metáfora, Cossa faz uma revisão da Argentina no último século e mostra o fechamento e a passividade que são os germéns incubados da tragedia de hoje. “Cuestion de princípios” abarca uma pequena parte significativa desses lugares poéticos todos numa produção uruguaia que se apresentará no Brasil, no 17º Porto Alegre em Cena.

Hugo Urquijo dirige a montagem em que são atores Víctor Hugo Vieyra e Adriana Salonia. Ambos dão vida ao reencontro depois de anos de silêncio. Um sindicalista e uma editora famosa: o pai e a filha. Ele quer que ela publique suas memórias. A casa e o vil metal da voz de Elis citada na abertura. Gerações que se enfrentam, lutas de pontos de vista, utopias e ideais, anos 70 versus anos 90. Cenas breves, saltos de tempo, picos de tensão: o manuscrito das memórias é revisto. Linearmente fragmentado, a força está na posição dos personagens frente às suas próprias histórias.

Autor de outras obras de grande êxito como La Nona, Yepeto, Gris de ausencia e Tute cabrero, além de várias outras também levadas às telas, Roberto Cossa, que reside, desde sempre, na Cidade de Buenos Aires, ao falar de política, nos lembra de nós mesmos e no debate interno daqueles que, ao crescer, questionam suas próprias criações.

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Texto: Roberto Cossa / Direção: Patrícia Yosi / Elenco: Walter Reyno e Laura Sanchez / Figurino: Nelson Mancebo / Cenário: Osvaldo Reyno / Iluminação: Carlos Torres / Trilha sonora: Fernando Condon / Duração: 1h10min / Classificação: 14 anos

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